A pirataria de softwares e até mesmo hardware de videogames não é algo muito novo, remetendo à época dos consoles 8 bits, especialmente o Nintendo, que dominava o mercado com seus jogos revolucionários para a época. Desde aquela época já era possível encontrar cópias falsificadas de jogos pra o console, porém a tecnologia empregada na época serviu como um grande obstáculo para a pirataria: como todos os jogos utilizavam cartuchos como mídia, o custo de produção de uma versão falsificada ficava muito próximo do original. Desta forma, compensava muito mais para o consumidor pagar um pouco mais para obter o produto original com manual e caixa do que poupar alguns trocados comprando o pirata.
Nesta época um cenário interessante acontecia no Brasil: ao contrário de hoje em dia, em que o reino da pirataria acontece principalmente no mercado de softwares, a parte mais pirateada era justamente a mais cara, o hardware. Com a falta de suporte oficial da Nintendo no Brasil durante a geração 8 bits, era comum surgirem diversos clones do console da fabricante japonesa, com os mais diferentes nomes.
Quem é um pouco mais velho deve lembrar pérolas como o TurboGame e as incontáveis versões do Dynavision, todos eles versões abrasileiradas do NES. Até hoje é possível encontrar companhias que continuam explorando o console de 8 bits de maneira ilegal, seja através de controles que possuem dezenas de jogos na memória até reproduções de consoles mais recentes que constituem a famosa linha Polystation.
Como o CD ROM contribuiu para o aumento da pirataria
Uma das tecnologias responsáveis por revolucionar o nível de qualidade encontrado nos videogames também é culpada por proporcionar um grande aumento no nível da pirataria de software. A inclusão de unidades de CD ROM em consoles caseiros foi uma verdadeira revolução tanto no que diz respeito ao espaço de armazenamento disponível (um cartucho comportava no máximo 256 MB de memória. Um CD ROM comum comporta facilmente 700 MB, mais do que o dobro), quanto no que diz respeito ao custo de produção de jogos e mídia.
Cartuchos eram mídias que utilizavam materiais caros, além da produção estar concentrada nas mãos de poucas empresas. Já com os CDs, a história é completamente diferente: unidades de gravação eram baratas o bastante para que o consumidor comum pudesse instalá-la em sua própria casa. Isso sem contar com o preço das mídias de gravação, acessíveis para o bolso da maioria das pessoas.
É justamente na época da popularização do CD ROM como mídia para a gravação de jogos que houve uma grande explosão da pirataria, especialmente em terras brasileiras. Historicamente, todo software lançado no Brasil costuma chegar de forma atrasada se comparada à data de lançamento em outros países mais desenvolvidos, além de possuir um preço na maioria das vezes três vezes maior do que o original. Contando com a falta de representação oficial da Sony, companhia que estava tomando a liderança do mercado naquele momento, o cenário era extremamente favorável para o domínio dos softwares falsificados.
Foi na época do domínio do primeiro Playstation que se tornou comum observar a venda de títulos em camelôs por preços muito menores do que as versões originais. Como o processo de destravar o console não era nada complicado, o cenário que dominava era o de jogadores que comprovam o videogame com o único objetivo de destravá-lo e rodar cópias piratas de software.
Já nesta época houve diversas tentativas de barrar a distribuição de jogos piratas, seja através de jogos que possuíam mecanismos que detectavam a presença de chips de destravamento e se recusavam a rodar e até mesmo mudanças da arquitetura interna dos aparelhos, como forma de tentar impedir a instalação de hardwares que possibilitassem a reprodução de CDs que não fossem originais.
A tentativa da Sega para combater a pirataria
Embora o Playstation fosse o principal alvo dos pirateiros, não demorou para outros consoles apresentarem a possibilidade de rodar facilmente jogos piratas. Enquanto a Nintendo ainda estava relativamente tranquila a esse respeito, por ainda utilizar consoles baseados em cartuchos, concorrentes como a Sega também sofriam o efeito da popularização de CDs.
O Dreamcast, console mais poderoso em sua época de lançamento, chegou a decretar o fim da pirataria pela utilização de uma mídia em CD própria da Sega, o GD. Dois motivos levaram a companhia a acreditar nesta possibilidade: por ser uma mídia proprietária, nenhuma outra empresa tinha a capacidade de fabricar GDs, além de não haver nenhuma espécie de gravador disponível no mercado. O outro motivo era relativo ao tamanho dos jogos: enquanto jogos para CDs normais comportavam no máximo 700 MB, os GDs podiam carregar até 1 GB de dados, tornando a conversão de jogos algo aparentemente impossível.
O final da história, como todos devem saber, infelizmente não foi muito favorável para a Sega. O console se tornou um dos mais pirateados da história, principalmente devido à descoberta de falhas em seu sistema de iniciação, que permitiam rodar jogos falsificados sem precisar instalar nenhuma espécie de chip de modificação. Isso se deve à opção da companhia em utilizar uma versão otimizada do Windows CE para ativar o boot do sistema: como já era um sistema operacional bastante conhecido, não foi nenhum trabalho para os grupos piratas desenvolver um método de pular a checagem de segurança feita pelo videogame.
Desta forma, rodar jogos piratas no Dreamcast era algo muito fácil. Bastava iniciar o console com um disco capaz de passar o processo de boot de segurança do sistema e em seguida trocá-lo pelo disco contendo o jogo pirata. O tamanho dos GDs também não foi um obstáculo, já que a maioria dos jogos do sistema não ocupava mais do que 700 MB, isso sem contar as diversas técnicas de compressão utilizadas pelos piratas para fazer jogos mais pesados rodar em simples CDs.
A pirataria acompanha a era dos jogos em DVD
Com a capacidade de processamento cada vez maior disponibilizada pelos consoles que eram anunciados no mercado, foi preciso mudar de mídia para realmente aproveitar o potencial dos novos produtos. Tanto a Sony quanto a Microsoft apostaram em DVDs como nova mídia de gravação, devido à grande capacidade de armazenar dados se comparada aos CDs. Embora novos métodos de travamento e sistemas de segurança tenham sido implementados para garantir que somente jogos originais seriam capazes de rodar, não demorou muito para que a pirataria conseguisse chegar ao Playstation 2 e o Xbox.
Mais uma vez foram observadas diversas tentativas das fabricantes de consoles em barrar a utilização de conteúdo pirata em seus consoles, algumas chegando a conquistar um relativo sucesso. Muitos jogos em suas versões pirateadas apresentavam menos conteúdo do que os originais, devido à utilização de mídias especiais em dupla camada pelos fabricantes. Mesmo assim, a maioria das pessoas não se importou com este problema, pois o preço dos jogos piratas ainda era muito mais atraente se comparado ao software original.
A companhia que se deu melhor em relação aos softwares piratas foi a Nintendo, mais uma vez devido à escolha de mídia utilizada no Gamecube. Os mini-DVDs utilizados pela companhia não eram tão populares quanto os DVDs convencionais, além de precisarem de um método de gravação próprio para rodarem corretamente. Embora esforços em rodar jogos piratas no console tenham sido bem sucedidos, os títulos falsificados nunca chegaram a ter a mesma forma alcançada nos consoles concorrentes.
Novas formas de combater a pirataria
Com o anúncio do lançamento do XBox 360, Wii e Playstation 3 logo começaram as apostas de quando surgiriam as primeiras formas de rodar softwares piratas nestes consoles. As fabricantes, cientes destes problemas, começaram a analisar as ações que realizaram no passado como forma de tentar descobrir um método que realmente fosse capaz de barrar a ação de jogos pirateados.
Um dos fatores que ajudou a barrar a pirataria em um primeiro momento são as funcionalidades online disponíveis em todos os consoles. Além de contar com travas no próprio hardware que tem o objetivo de detectar tentativas de utilizar software falsificado, o próprio firmware do console é responsável por checar se o usuário está utilizando jogos piratas ou não.
Como os consoles estão conectados todo o tempo à Internet, é possível lançar uma série de atualizações responsáveis por corrigir erros de segurança, deixando os consoles com uma blindagem reforçada contra a ação dos piratas. Isso sem contar com a ameaça constante de perder a possibilidade de jogar contra amigos caso o console detecte que você não está utilizando um jogo original. XBox Live, Playstation Network e a rede online do Wii bloqueiam de maneira definitiva o acesso de qualquer console em que foi detectada a presença de software pirata.
Mesmo com todos estes obstáculos, a pirataria deu um jeito de chegar tanto ao Wii quanto o XBox 360, permitindo manter funcionalidades online mesmo utilizando jogos que não são originais. Porém, por mais tentativas que os piratas tenham feito, até o momento a proteção do Playstation 3 se mantém forte, três anos após seu lançamento. Embora algumas tentativas tenham conseguido passar algumas das proteções do console, nenhum grupo foi capaz de rodar com perfeição software falsificado no console.
Por que o Playstation 3 é tão forte contra a pirataria?
Não é somente um motivo em específico que torna o console da Sony tão forte contra a pirataria, mas sim uma combinação de fatores resultantes da observação das falhas que permitiram a disseminação da pirataria no Playstation, Playstation 2 e PSP. Tanto fatores como o hardware utilizado quanto a forma como o software do console é atualizado tornaram o Playstation 3 um verdadeiro desafio para hackers. Abaixo listamos algumas das razões porque a Sony conquistou tantas vitórias contra a pirataria nesta geração.
1) Opção pelo Blu-ray como mídia
Por mais que tenha sido considerada uma decisão arriscada em um primeiro momento, optar pela utilização do Blu-ray como mídia de reprodução foi uma jogada que garantiu segurança contra a pirataria. Mesmo com o crescimento do tamanho dos discos rígidos disponíveis no mercado, dificilmente alguém vai se dispor a baixar cerca de 25 GB por somente um jogo. Isso sem contar os jogos em camada dupla, capazes de possuir até 50 GB de conteúdo. Na realidade brasileira, isso pode significar algumas semanas de download, além de romper facilmente com o limite de banda imposto pelas provedoras de acesso nacionais.
O próprio custo do Blu-Ray é outro grande obstáculo para a difusão de jogos piratas. Um disco virgem custa em média 35 reais, valor proibitivo para a maioria das pessoas. Mesmo com fabricantes nacionais como a Microservice anunciando a produção dos discos em território nacional, ainda vai demorar para que a mídia seja tão atraente financeiramente quanto CDs ou DVDs. Isso sem contar no valor dos gravadores, que custam uma média de $400, valor superior ao pago nos consoles.
2) Preço de lançamento do PS3
O preço de lançamento inicial do Playstation 3, embora tenha sido criticado com toda a razão como abusivo, também contribui para a queda da pirataria. Em forums online é comum encontrar relatos de usuários que dizem que mesmo que um modchip estivesse disponível para o console, dificilmente iriam se arriscar a perder a garantia do aparelho. Afinal, não é todo mundo que pode se dar ao luxo de jogar no lixo os 600 dólares pagos pelo console em seu dia de lançamento.
3) Jogos com região livre
Pode até parecer mentira, mas um dos principais motivos que levou vários donos do das duas primeiras versões do Playstation a desbloquear seus consoles foi a possibilidade de rodar jogos restritos a outros mercados. Muitos jogadores hardcore instalaram modchips em seus consoles como forma de poder jogar títulos que só saíram no Japão. Com a queda das restrições por região, fica muito mais fácil importar títulos estrangeiros sem precisar modificar em nada o console.
4) Atualizações que realmente trazem novidades
Ao contrário dos demais consoles que dificilmente alteram alguma funcionalidade durante suas atualizações de software, várias versões do firmware do Playstation 3 possibilitaram que o jogador utilizasse o console para novas funções. Entre as modificações disponíveis está a capacidade de rodar jogos do primeiro Playstation, além de melhorias de conectividade com dispositivos como câmeras USB e microfones que utilizam a tecnologia Bluetooth.
Isso tudo contando com as constates atualizações de segurança que vêm em cada uma das atualizações disponíveis. A utilização de softwares piratas com certeza iria significar que o usuário perderia o acesso a todas as funções online e atualizações do videogame, algo que não parece muito atrativo se levar em conta as diversas funções que o Playstation 3 ao longo do tempo devido a instalação de versões novas de seu firmware.
5) Complexidade do hardware
Sem dúvida está é o principal motivo pelo quais hackers ainda não foram capazes de desbloquear a proteção do console. Ao ligar o console, ocorrem 4 estágios diferentes responsáveis por checar a segurança do videogame. Primeiro é verificado se o HD utilizado está no PS3 correto, e só então são liberados os arquivos necessários para iniciar o carregamento do sistema operacional do aparelho.
Em seguida é feita a leitura do DRM, garantindo a autenticidade do disco presente no drive de leitura. Só depois de todos esses processos é que o console começa a leitura dos arquivos dos jogos. Todas estas etapas contam com diversos arquivos de segurança que tornam muito complicada a ação de hackers, e basta a falta de qualquer um destes componentes para que o Playstation 3 seja incapaz de iniciar corretamente.
Outro obstáculo são os 7 processadores Cell utilizados pelo console: um deles é responsável somente por checar a segurança do aparelho, sendo acessível somente para funcionários da própria Sony. Este Cell certifica que tudo que está no Playstation 3 realmente pertence ao aparelho, retringindo a troca de discos rígidos entre usuários e uso de cópias não autorizadas de jogos. Apesar deste processador ser capaz de se comunicar com os outros, ele não é acessível por outros meios como os demais, tornando-o muito seguro contra ataques externos.
Mesmo que esta proteção conseguisse ser quebrada, os hackers ainda teriam que lidar com o leitor de Blu-ray do console, desenvolvido para funcionar de maneira dedicada no Playstation 3. Cada disco é codificado utilizando uma chave 128-bit que o identifica, devendo ser lido de uma maneira específica para rodar. A segurança é tão grande que não há meios de fazer como no PSP, em que é possível trocar um disco por outro durante a leitura, abrindo a possibilidade de instalar modificações.
O Playstation 3 chegou para provar que, ao contrário da crença popular, é possível fazer um console de videogames imune à pirataria. A Sony parece que realmente aprendeu com os consoles anteriores, utilizando uma série de mecanismos de proteção tão impressionantes quanto os jogos do PS3.
E você, o que acha sobre isso? Acredita que o Playstation 3 vai continuar impenetrável ou a pirataria também vai derrotar a proteção do console? A sWild conta com sua opinião sobre o tema.
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