Quem está acostumado a lidar com o mundo da informática já deve ter ouvido histórias assustadoras sobre “amigos de amigos” que perderam todos os dados de seu disco rígido após brincar alguns instantes com um imã enquanto estavam sentados na mesa do computador. Outra lenda comum é a das pastas para carregar notebooks que destroem o computador do usuário através dos imãs presentes em sua fechadura.
Para colaborar, praticamente todo dispositivo vendido no mercado vem com um grande aviso alertando para os riscos de aproximar qualquer disco rígido de um imã, situação que poderá resultar em perda de dados e até mesmo danos físicos ao hardware. Porém, nenhuma dessas lendas ou avisos conseguem explicar a veracidade do fato, simplesmente se reduzindo a simples afirmação de que imãs e discos rígidos não combinam.
Afinal, qual a chance de um imã danificar um disco rígido?
Os modelos mais antigos dos discos de gravação, que utilizavam uma tecnologia semelhante às dos disquetes, realmente sofriam com este problema. Caso deseje comprovar a fragilidade que estes modelos possuíam, faça o teste com um disquete qualquer (isso é, caso você ainda consiga encontrar algum para vender atualmente): alguns poucos segundos de exposição a um imã qualquer são suficientes para apagar qualquer dado contido no dispositivo.
Atualmente, a não ser que você utilize um imã extremamente poderoso, as chances de que brincadeiras com um simples imã de geladeira perto do computador possam ocasionar perda de dados ou danos ao hardware são ínfimas. Isso porque o campo magnético gerado por estes objetos é muito pequeno, incapaz de influenciar no campo gerado pelo próprio disco rígido.
Se a simples presença de um imã fosse suficiente para danificar o computador, nenhum disco rígido seria capaz de funcionar corretamente. Isso porque no próprio processo de fabricação são utilizados alguns dos tipos de imãs mais poderosos encontrados na Terra atualmente. Nos primeiros discos rígidos, a movimentação dos braços e cabeças de leitura era realizada utilizando motores de passo, os mesmo encontrados em drives de disquete. O problema destes discos era o constante desalinhamento e o limite de espaço, que não era muito alto.
Os discos mais recentes utilizam um mecanismo chamado voice coil, que trabalha com atração e repulsão eletromagnética. Um imã bastante poderoso de neodímio localizado na base do braço do disco rígido é responsável por realizar sua movimentação, permitindo que as cabeças de leitura façam seu trabalho. Esse sistema permite trabalhar de forma muito mais rápida e precisa do que os motores de passo, proporcionando um maior aproveitamento da densidade do disco rígido.
Para que um imã seja capaz de afetar os dados gravados, terá de ser poderoso o bastante para exceder a coercitividade do campo magnético que rodeia o dispositivo. A coercitividade é a capacidade de um material magnético manter seus imãs elementares em uma determinada posição fixa. Para que haja mudança nesta posição, é necessária a presença de um campo magnético externo mais forte. Quanto mais os imãs elementares resistem a esta mudança de posição, maior a coercitividade do material.
Um disco rígido comum possui coercitividade de alguns milhares de Oerteds (unidade que mede a indução magnética), o que significa que é necessário um campo magnético externo com a mesma intensidade para que haja a desmagnetização da peça. O imã presente em uma caixa de som sem proteção magnética, por exemplo, não terá coercitividade de nem mil Oerteds, não representando risco nem se o disco rígido estiver muito perto dela.
Outro ponto que deve ser levado em consideração é a distância entre o imã e o disco rígido. O poder do campo magnético exercido por um imã cai drasticamente conforme ele é afastado do ponto de referência. Para ver este princípio funcionando na prática, é só tomar como exemplo um imã comum: ao aproximá-lo de moedas, estas são atraídas imediatamente para ele. Porém, experimente afastá-lo cerca de 10 centímetros e aparentemente nenhuma atração será exercida.
Mito desvendado
A não ser que você utilize um imã extremamente poderoso colocado encostado no disco rígido, é praticamente impossível que algum dado seja apagado por causa da influência de um simples imã de geladeira. Porém, como é muito complicado explicar todos os princípios físicos que estão em jogo para o consumidor comum de forma simples, é muito mais prático simplesmente assustá-lo, incluindo avisos de que o contato com qualquer imã pode significar danos ao dispositivo. Isto pode até ser verdade, mas depende de condições difíceis de acontecer em um ambiente doméstico.
Quando se trata de tecnologias ainda mais modernas, como memórias em SD ou CompactFlash, não há nenhum tipo de preocupação, pois eles são imunes à influência de campos magnéticos. Para que um imã fosse capaz de danificar um destes dispositivos, teria que ser poderoso o bastante para arrancar o ferro presente nas células de humanos. Porém, estas tecnologias são assuntos para outro artigo.
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